RADICALIZAÇÃO JÁ!

Radicalizar é um verbo que significa tornar radical. Também tem como significado tomar ou defender atitudes radicais. E ainda pode ser entendido como ser extremista. Nos últimos anos vimos esse conceito ser praticado de forma intensa na atividade política no Brasil e no mundo, a exemplo das últimas eleições nos EUA, no Reino Unido e no Brasil.

Tal situação provocou e continua provocando reações de desconforto e perplexidade em setores que, historicamente, sempre atuaram politicamente baseando-se em evidências e racionalidade, tendo como objetivo a busca de equilíbrio e a construção de consensos. Diante disso, ficaram repetindo aos quatro ventos a necessidade de se condenar a polarização. E qual foi o resultado? Inúmeras e sucessivas derrotas!

Estamos há pouco menos de 3 meses das eleições presidenciais nos EUA. O cenário apontado pelas mais recentes pesquisas indica um avanço da candidatura de Joe Biden. Escaldados pelo derrota de 2016, os democratas vêm tentando encontrar maneiras eficazes de garantir que o colégio eleitoral dessa vez confirme as pesquisas. O primeiro passo foi trabalhar para garantir a unidade interna. Nos quatro dias da convenção nacional, concluída ontem, todos que foram adversários e adversárias de Biden nas prévias fizeram questão de discursar apoiando a escolha e conclamando à necessidade de derrotar o atual presidente.

Porém, a iniciativa que me parece ter sido a mais relevante para possibilitar uma eventual vitória em 3 de novembro foi a escolha de Kamala Harris para compor a chapa como candidata a vice. A senadora pela Califórnia é uma liderança que, mesmo sendo alinhada com os setores moderados do Partido Democrata, tem conseguido marcar sua atuação política justamente pela maneira radical com que se posiciona. Em outras palavras, ao radicalizar na defesa de seus pontos de vista ela consegue falar a corações e mentes, fazendo um fundamental contraponto a Biden, reconhecido como importante integrante do establishment do Partido Democrata.

Na verdade, ela tem dado seguidos exemplos de que não apenas entendeu, mas aprendeu a atuar no território que Giuliano Da Empoli, em seu livro “Os Engenheiros do Caos”, classifica de política quântica. Em uma analogia com a física, o autor afirma que saímos da época da política newtoniana, baseada num mundo racional e controlável, para a política quântica onde “as interações são as propriedades mais importantes de cada objeto e diversas verdades contraditórias podem existir sem que uma invada a outra.”.

E aqui no Brasil? Em 15 de novembro teremos eleições para Prefeituras e Câmaras de Vereadores em 5.570 municípios. Ouso afirmar que a imensa maioria de pré-candidatos não tem a menor ideia do que significa essa mudança. Engana-se quem pensa que ela só se aplica aos grandes centros urbanos. O espaço das redes sociais, centro nervoso da política quântica, está presente na vida das pessoas, tanto em Serra da Saudade, com seus 781 habitantes, quanto em São Paulo, a metrópole com população superior a 12 milhões de pessoas.

Por outro lado, há um outro equívoco recorrente em algumas análises sobre as redes sociais ao trata-las como um terreno estranho à vida real. Ora, quem as movimenta é gente de carne e osso! Alguns contestarão alegando a existência de robôs. Tudo bem, eles existem, mas seu papel é constantemente superestimado em detrimento da necessidade de se compreender o comportamento das pessoas. Por que diacho, vemos ideias claramente bizarras tais como o terraplanismo ou a negação da pandemia terem tamanho apelo? Na condição de consultor, estou convicto que o segredo para quem pretende enveredar na disputa eleitoral passa, obrigatoriamente, por buscar aprofundar seu conhecimento sobre esse tema de modo a aprender a atuar de forma eficaz.

Assim, é fundamental reconhecer que nós, seres humanos, somos movidos pela emoção. E não é diferente na hora de definir o voto. Apenas a minoria do eleitorado vê na racionalidade e no equilíbrio fatores determinantes para escolher em quem votar. Esqueça as longas publicações de perfil técnico ou os vídeos com mais de 1 minuto de duração. Use mensagens curtas e diretas, com um posicionamento claro, para atrair quem se identifica com suas ideias, gerando a indispensável adesão e mobilização de multiplicadores que replicarão sua campanha pelos quatro cantos. E lembre-se: procure criar um ambiente de radicalização para chamar de seu! Pode-se resistir a seguir esse caminho, mas só aumentará a chance de derrota em novembro.

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 21/08/2020.

https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2020/08/4869966-radicalizacao-ja.html

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Saiu na mídia https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/08/4870005-camara-da-folego-ao-governo.html

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