No domingo passado, o diretório do PT-RJ aprovou o nome de Marcelo Freixo como pré-candidato a governador. O resultado da votação foi 52 a 3. O interessante é verificar que esses três votos contrários foram dados por dirigentes ligados à política de Niterói, mais especificamente às administrações de Rodrigo Neves e de seu sucessor, Axel Grael.
Considerando o padrão dominante no partido, pode-se afirmar que foi uma reunião muito rápida, com duração de apenas 2 horas. A pressa teve uma justificativa formal: o enterro do filho da deputada Benedita da Silva. Mas o que se tinha em mente era se antecipar ao anúncio que seria feito dias após pelo PSB, confirmando a manutenção da candidatura de Alessandro Molon ao Senado.
Ora, todo mundo sabe que será impossível o PT engolir uma chapa “puro sangue” de outro partido. E, nesse caso, contam também os atritos históricos com os dois deputados socialistas ambos ex-petistas.
Freixo vem atuando fortemente contra as pretensões de Molon, incluindo repetidas declarações públicas de apoio à candidatura de Ceciliano ao Senado. Porém, até o momento, suas ações não tiveram êxito. E tudo indica que o impasse permanecerá.
Um dado relevante é a prioridade que Lula vem dando à eleição para o Congresso Nacional, particularmente o Senado Federal. Ressalte-se que na recente visita ao nosso estado, o ex-presidente teve um encontro reservado com o governador, onde ficou acertado um pacto de não agressão. E gerou reações iradas de bolsonaristas, que passaram a acusar Castro de traição.
No mesmo sentido, o presidente da Alerj vem realizando um trabalho sistemático de articulação, cujo resultado é o compromisso assumido por muitos prefeitos e prefeitas. Estima-se que a adesão à sua pré-candidatura, até o momento, já tenha chegado a 70 alcaides, independentemente de filiação partidária.
Contribui para isso o público e notório clima de camaradagem que marca a relação de Ceciliano com Cláudio Castro. Aliás, é comum ouvir entre apoiadores dos dois que a chapa ideal é “Castro-Lula”. Até mesmo Quaquá, ex-prefeito de Maricá e influente liderança petista, gravou um vídeo no ano passado em sua cidade ao lado do governador defendendo essa ideia.
Segundo pude apurar junto a fontes petistas, um dos argumentos já circulando nos bastidores para justificar o abandono de Freixo mais à frente é sua histórica elevada rejeição, candidato conhecido por ter piso alto e teto baixo. Ninguém se esquece de que ele conseguiu a proeza de ser derrotado por Crivella na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016.
A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira reforça esta percepção. Nela, o pré-candidato do PSB é o segundo com maior índice de rejeição (26%), ficando atrás apenas de Garotinho (49%), enquanto Cláudio Castro aparece com 18% e Rodrigo Neves apenas 12%. Já no quesito intenção de voto, o socialista lidera com 22% seguido por Castro com 18% e Neves com 7%.
Outro fator relevante é a necessidade imperiosa de aproximar a campanha de Lula dos evangélicos que hoje, majoritariamente, caminham ao lado de Bolsonaro. É verdade que o pré-candidato do PSB tem feito um esforço para diminuir as resistências a seu nome nesse segmento. Em dezembro Freixo chegou a se apresentar para 90 bispos e 900 pastores na Assembleia de Deus de Madureira, mas pouco progresso foi obtido. Certamente, uma aliança com ele não ajudaria muito o projeto presidencial do PT nessa área.
Adicionalmente, diversas pesquisas têm revelado que, se o apoio de Lula a Freixo pode representar um ganho de escala para o socialista na disputa pelo governo estadual, a recíproca não se confirma. Pouco acrescenta às intenções de voto para o ex-presidente aqui no estado.
Não bastassem esses obstáculos, a atitude de Molon indica que sua decisão é esticar a corda até a convenção. Afinal, ele tem o controle do PSB no estado e tem procurado formar alianças em torno de sua pré-candidatura. A última é a aproximação com o PDT, que poderia abrir mão do nome de Daciolo para apoiá-lo na disputa pela vaga no Senado.
Por outro lado, se, como tudo indica, Eduardo Paes se acertar com Carlos Lupi e resolver apoiar o ex-prefeito de Niterói na disputa pelo Palácio Guanabara, essa pré-candidatura ganha um impulso relevante. Permitiria atrair os votos daquela parcela do eleitorado que considera Freixo um representante da esquerda radical. Línguas ferinas dizem que ele saiu do Psol, mas o Psol não saiu dele.
É nesse cenário que cada vez mais vem ganhando força nas hostes petistas a ideia de dar o chamado “cavalo de pau”, levando o partido a trabalhar para substituir Freixo por Rodrigo Neves. Até porque Paes e Lupi mantêm relações amistosas com Lula e não fariam objeção de oferecer-lhe esse palanque aqui no estado.
Os próximos meses serão de fortes emoções e tudo isso pode ou não se confirmar. Porém, é bom registrar que não seria a primeira vez em que Freixo e Molon ficariam a ver navios na relação com o PT. Só nos resta acompanhar e conferir.
Orlando Thomé Cordeiro é consultor em estratégia
Artigo publicado no portal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes em 09/04/2022 https://opinioes.folha1.com.br/
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