Harry Potter, Matrix e a política

Harry Potter, Matrix e a política

Sou fã da saga do jovem bruxo, cujos oito filmes ocuparam as telas de cinema por 11 anos a partir de 2001. Assisti a todos eles por diversas vezes. Filmes são minha forma de expressão artística favorita. Além de divertir, propiciam muitos aprendizados que podem ser aplicados em diferentes campos de atividade. Em Relíquias da morte — parte 2, que fecha a sequência, há uma cena em que Harry e Dumbledore travam o seguinte diálogo:

— Me diga uma última coisa, disse Harry. Isso é real? Ou está tudo acontecendo na minha cabeça?

— É claro que isso está acontecendo dentro de sua cabeça, Harry, mas por que isso deve significar que não seja real?, responde Dumbledore, sorrindo.

Outra obra cinematográfica marcante é Matrix, lançado em 1999. Quem não se surpreendeu com a inovação de linguagem trazida pelas irmãs Wachowski? A cena icônica envolve os dois principais personagens em um diálogo com referências a Platão e Lewis Carol, como se pode ver a seguir:

Morpheu: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua TV. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que você não visse a verdade.

Neo: Que verdade?

Morpheu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não pode sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é Matrix. Você tem que ver por si mesmo. Esta é a última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul, a história acaba e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.

O que existe em comum nos diálogos aqui reproduzidos? Em primeiro lugar, eles retratam a busca da humanidade por respostas aos mistérios cultivados na mente, num confronto que, geralmente, opõe realidade e imaginação. Além disso, procuram mostrar que o conceito de verdade não necessariamente está relacionado a evidências que a comprovem, um fenômeno presente fortemente nas redes sociais. São exemplos disso os milhões de seguidores que multiplicam ideias contra a vacinação (antivax) ou a favor do terraplanismo. E, em muitos casos, a proliferação de fake news contribui significativamente para a ampliação do universo de apoiadores. Não demorou muito para a atividade política encontrar nessa seara um terreno fértil.

O Congresso Nacional acabou de aprovar a PEC definindo as novas datas das eleições municipais. Quem pretende se candidatar às prefeituras e às câmaras municipais tem um enorme desafio, qual seja, fazer pré-campanha e campanha em meio a uma pandemia. Não é novidade dizer que, nesse cenário, o trabalho nas mídias e redes sociais ganha relevância ainda maior, quase absoluta. E boa parte de pré-candidatos declara saber como fazer isso. Tornou-se quase um senso comum. Porém, a pergunta decisiva é: como fazer de forma eficaz? Para responder, passo a oferecer dicas.

A primeira é reconhecer que, como já escrevi em outras ocasiões, nas redes cada grupo segue suas verdades e crenças, pouco importando as evidências. Ou seja, quem vai se candidatar precisa, rapidamente, tratar de criar ou encontrar grupos “para chamar de seus”, que sejam formados por pessoas que sigam, apoiem e compartilhem suas ideias.

A segunda é identificar as redes nas quais os participantes têm perfis correspondentes ou relacionados ao eleitorado potencial que se busca alcançar. Ter milhares de pessoas inscritas em suas páginas não é garantia de apoio e, no limite, de voto. Há inúmeros casos de candidaturas que, nas últimas eleições, tiveram votação muito inferior aos respectivos números de seguidores.

A terceira é compreender que, no território da internet, está se lidando com pessoas que, como qualquer ser humano, são movidas pela emoção. Portanto, utilize mensagens que mexam com o emocional. Também é forçoso reconhecer que vivemos tempos instantâneos. Tudo é muito rápido. Assim, não adianta fazer vídeos ou textos longos. Suas ideias e propostas precisam ser capturadas em segundos.

Essas são apenas dicas preliminares que estão longe de esgotar o assunto. Quem deseja se aprofundar pode visitar o site focanaestrategia.com, onde há diversas publicações disponíveis sobre esse tema e outros relacionados às eleições. Aguardo vocês por lá.

Orlando Thomé Cordeiro é consultor em estratégia

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 10/07/2020

Ouça mais dicas https://focanaestrategia.com/nodetalhe-em-09-03-2020/

Leia também http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-a-rede-do-odio/

 

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