“Na Aba do meu chapéu, você não pode ficar
Porque meu chapéu, tem Aba curta
Você vai cair, e vai se machucar”
Os versos do genial Martinho da Vila são apropriados para caracterizar uma situação bastante comum em campanhas eleitorais. São candidatos e candidatas que buscam pegar carona na popularidade de lideranças locais, regionais ou nacionais.
Em geral, o “dono do chapéu” costuma ser consultado previamente para autorizar a utilização dessa ligação política. Porém, em muitas ocasiões o que se vê é o uso de imagens na base do “se colar, colou”. Na atual campanha não está sendo diferente. E o chapéu com a aba mais disputada é o do presidente Bolsonaro.
Devido à crescente aprovação, o presidente se tornou um apoiador cobiçado. Não à toa a ampla maioria das candidaturas a Prefeituras e Câmaras Municipais concentra-se nos partidos de sua base de sustentação. E há até mesmo casos de quem não comunga de seu ideário, mas procura um jeitinho de surfar nessa onda. Será que vai dar certo essa tática?
Para responder, vale a pena analisar alguns aspectos da última pesquisa CNI/IBOPE que avaliou a aprovação atual do governo federal bem como a expectativa em relação aos próximos dois anos. Foram 2 mil entrevistas, em 127 municípios, entre 17 e 20 de setembro. Considerando os percentuais de bom/ótimo e ruim/péssimo, nessa ordem, encontramos os seguintes dados para a avaliação do governo:
Por faixa etária: de 16 a 24 anos – 32% e 34%; 25 a 34 anos – 38% e 29%; 35 a 44 anos – 42% e 30%; 45 a 54 anos – 44% e 27%; a partir de 55 anos – 41% e 26%.
Por grau de instrução: até a 4ª série do Ensino Fundamental (EF) – 44% e 22%; 5ª a 8ª série (EF) – 40% e 27%; Ensino Médio – 41% e 29%; Ensino Superior – 33% e 36%.
Por condição do município: Capitais – 32% e 39%; Periferia – 41% e 29%; Interior – 43% e 26%.
Por número de habitantes: até 50 mil – 44% e 24%; mais de 50 mil até 500 mil – 42% e 28%; mais de 500 mil – 33% e 35%.
Por região: Norte/Centro-Oeste – 45% e 24%; Nordeste – 33% e 33%; Sudeste – 38% e 30%; Sul – 42% e 22%.
Por renda familiar (salários mínimos): até 1sm – 35% e 31%; mais de 1 até 2sm – 39% e 29%; mais de 2 até 5sm – 43% e 27%; mais de 5sm – 39% a 34%.
Mantendo-se o mesmo critério para os percentuais de bom/ótimo e ruim/péssimo, nessa ordem, os dados quanto à expectativa em relação ao restante do governo são os seguintes:
Por faixa etária: 16 a 24 anos – 26% e 32%; 25 a 34 anos – 33% e 32%; 35 a 44 anos – 39% e 28%; 45 a 54 anos – 42% e 30%; de 55 anos em diante – 39% e 28%.
Por grau de instrução: até a 4ª série do Ensino Fundamental (EF) – 40% e 25%; 5ª a 8ª série (EF) – 38% e 30%; Ensino Médio – 35% e 29%; Ensino Superior – 32% e 35%.
Por condição do município: Capitais – 30% e 37%; Periferia – 40% e 28%; Interior – 38% e 27%.
Por número de habitantes: até 50 mil – 37% e 25%; mais de 50 até 500 mil – 40% e 28%; mais de 500 mil – 31% e 35%.
Por região: Norte/Centro-Oeste – 42% e 27%; Nordeste – 28% e 33%; Sudeste – 35% e 31%; Sul – 49% e 22%.
Por renda familiar (salários mínimos): até 1sm – 30% e 34%; mais de 1 até 2sm – 36% e 28%; mais de 2 até 5sm – 40% e 25%; mais de 5sm – 36% e 36%.
Ao se observar o perfil das candidaturas, quase 60% delas têm entre 35 e 54 anos de idade, segmento da população onde o presidente apresenta seus melhores índices de aprovação. Seria possível supor que venha a se estabelecer algum nível de empatia entre eleitores e candidatos com base no cruzamento de identificação política e faixa etária? Creio que sim.
Outra questão interessante é verificar que, tanto na avaliação do presente quanto na expectativa em relação ao futuro do governo, os índices de desaprovação são praticamente os mesmos. Isso pode representar a tendência de uma parcela da população estar consolidando um sentimento de rejeição ao presidente. Porém, ainda não se pode afirmar que tal percepção seja irreversível.
Por outro lado, se é verdade que o auxílio emergencial contribuiu bastante para o aumento da popularidade presidencial junto aos segmentos mais pobres, é significativo ver que os 39% de aprovação do governo entre pessoas com renda familiar de 1 a 2 salários mínimos é exatamente o mesmo para as pessoas com renda familiar superior a 5 salários mínimos.
Com base nesses dados, ouso afirmar que, na grande maioria dos municípios, o resultado das urnas em 15 de novembro indicará uma vitória eleitoral de candidaturas associadas ao campo bolsonarista, ajudando a criar uma base sólida com vistas às eleições presidenciais de 2022. Vai vendo…
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 16/10/2020 https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2020/10/4882538-na-aba-do-chapeu.html
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Assista a live sobre estratégia eleitoral https://www.youtube.com/playlist?list=PLQ54NHeWK4fjbPI_MO43Zf0jdC9XWZZD_